MEIO AMBIENTE

Pantanal recebe lixo e esgoto de 13 cidades do Vale do Rio Cuiabá

Redação: Notícias da Baixada | 04/08/2019 - 22:40
Pantanal recebe lixo e esgoto de 13 cidades do Vale do Rio Cuiabá

Patrimônio Natural Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) há três décadas, o Pantanal de Mato Grosso recebe toneladas de lixo orgânico e industrial de 13 cidades e mais de um milhão de habitantes.

Por conta disso, uma das maiores reservas de água doce do mundo está ameaçada. O lixo e o esgoto de 13 cidades às margens do Rio Cuiabá vão parar no Pantanal mato-grossense. Tem sofá, ventilador: tudo o que é lixo. Mesmo para quem passa rápido, é impossível não ver. Essa não é a paisagem com que o mundo se acostumou. Só que cada vez mais o que não deveria estar lá, é evidente.

Agride a natureza exuberante do Pantanal e a vida de quem é do lugar. “Fica que o homem pantaneiro destrói a natureza. Não é o homem pantaneiro que destrói a natureza, porque esse lixo vem de lá de cima”, explicou o pescador João Batista.

Justamente acima, seguindo o mapa, é a área urbana da Região Metropolitana de Cuiabá, liderada pela Capital de Mato Grosso. O Rio Cuiabá no meio e a água é envenenada por garrafas pet, inseticida, bolas, capacete e toda sorte de entulhos. O Pantanal é um mundo de água. A maior planície alagável do planeta.

São 155 mil quilômetros quadrados de área. É maior que o Estado Ceará. Também é maior que Rio de Janeiro e Santa Catarina juntos. Mas o gigante não escapa ao trabalho de formiguinha que é a ação do homem, o dono do lixo.

Essa época é considerada crítica pelos especialistas. É que a região metropolitana de Cuiabá se encontra há semanas sem uma gota de chuva. E, quando o verão chegar, então, vai chover todo dia. E, sim, irá chover para valer. Com isso, os rios – e seus afluentes – encherão e carregão tudo que ficou acumulado nas margens e nos córregos para dentro d’água.

Em menos de 24 horas, esse dejetos irão parar nas bacias que alimentam o Pantanal. É uma tonelada e meia de porcaria que vai parar na Bacia do Prata todos os dias.

Logo que vierem as primeiras chuvas, vão mais de 400 toneladas de lixo para o rio. Umas 45 a 50 provavelmente material flutuante, que descem, saindo das cidades, com passagem de ida sem volta”, explicou o engenheiro sanitarista Rubem Palma de Moura, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

E ainda tem o esgoto. Apenas 25% são tratados em Mato Grosso, segundo a Secretaria de Meio Ambiente do estado. Do restante, boa parte desemboca direto nos rios que formam o Pantanal. A secretaria promete apurar o tamanho deste impacto e investimentos. “Nós temos o comitê de bacias que estamos investindo R$ 7 milhões pelo pró-gestão e monitoramento de qualidade da água para quantificar o tamanho e a quantidade de dejetos poluindo os rios da baixada cuiabana e, consequentemente, acharmos o diagnóstico para podermos buscar a solução”, afirmou o secretário do Meio Ambiente do estado, Carlos Fávaro.

Neste momento, apenas ações voluntárias tentam limpar o Pantanal. “Esse lixo dos 13 municípios, que fazem margem do Rio Cuiabá, está literalmente matando o Pantanal. Então nós temos sim, temos a obrigação de vir tirar e levar de novo esse lixo para as cidades e jogar em um lugar apropriado”, explicou o diretor da ONG Teoria Verde, Jean Pelicciari.

Seu João: “De primeiro vinha a enchente, vinha o peixe. Agora vem o lixo. O que que nós vamos fazer?”.

Sob risco

O menor dos biomas brasileiros tem biodiversidade extremamente rica, com 3.500 espécies conhecidas de plantas, 463 de aves, 124 de mamíferos, 177 de répteis, 41 de anfíbios e 325 espécies de peixes de água doce. Segundo dados de 2008, o Pantanal, um dos biomas mais preservados do país, apresentava 83,14% de sua área total com cobertura vegetal remanescente. Tal cenário se explica pelo regime anual de inundação e pela baixa fertilidade dos solos, que ainda protegem muitas áreas do Pantanal.

Contudo, o bioma vem sofrendo com o desmatamento, a pesca ilegal, as queimadas, os projetos de infraestrutura de hidrelétricas, hidrovias e mineradoras sem bases sustentáveis, caça, invasão de espécies exóticas e poluição dos rios pelo uso de pesticidas. Segundo dados do inédito Projeto de Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite, entre 2002 e 2008 foram desmatados 2.479km2, o que equivale a 2,82% de seu território.

Fonte: Cuiabanonews