HISTÓRIA DE MT

Tóto Paes: A busca termina!

Redação: Baixadacuiabananews | 17/07/2024 - 10:46
Tóto Paes: A busca termina!

Entre os apreciadores da história regional, não é incomum encontrar quem alega que o ex governador Cel. Antônio Paes de Barros (Totó Paes) esteja sepultado nas proximidades da antiga Fábrica de Pólvora do Coxipó, onde hoje funciona o “Campo de Instrução Marechal Rondon” da 13º Brigada de Infantaria Motorizada.

Governador do Estado de Mato Grosso entre os anos de 1903 a 1906, o Cel. Antônio Paes de Barros foi um industrial de larga visão, fundador do maior empreendimento fabril do Centro-Oeste no final do Século XIX – a Usina Itaicy, localizada no município de Santo Antônio de Leverger, as margens do Rio Cuiabá.

 Em 1906, já próximo de terminar o seu mandato à frente do executivo estadual, Antônio Paes acabou sendo forçado a organizar uma frente de defesa contra um movimento revolucionário que objetivava apeá-lo ilegalmente do governo. Após dias de confronto e vítima de traição por parte de aliados, os governistas se rendem no dia 1º de julho e Totó Paes enceta uma fuga do Morro do Seminário até a Fábrica de Pólvora do Coxipó, onde se homizia ao aguardo das tropas federais sob o comando do General Emygdio Dantas Barreto.

Mesmo com a revolução terminada, o Cel. Antônio Paes de Barros acaba sendo perseguido pelos seus opositores políticos e cruelmente assassinado em seu abrigo no dia 06 de julho de 1906. Segundo Dantas Barreto, “no próprio lugar em que fora encontrado o corpo mutilado do presidente, abriram-lhe a sepultura que ainda hoje o encerra.” (BARRETO, Dantas. Expedição a Matto-Grosso – Revolução de 1906. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1907. p. 203).

Túmulo simbólico no "Campo de Instrução Marechal Rondon" (Foto : João Paulo Lacerda Paes de Barros)

Tempos depois, naquela mesma região, o exército providenciou a construção de um jazigo em seu tributo, que foi reformado em 2006 pelo Governo do Estado em comemoração ao centenário da sua morte. Com isso, não demorou para se espalhar a informação equivocada de que ele permanecia inumado naquele ponto. Mas na verdade, o túmulo da antiga Fábrica de Pólvora do Coxipó está vazio! É mantido pelo exército como um monumento em sua homenagem, marcando o lugar de seu passamento. Antônio Fernandes de Souza, escritor da obra “Antônio Paes de Barros e a política de Mato Grosso”, já havia apontado que: “Alguns anos mais tarde, por interferência de amigos residentes no Rio de Janeiro, foram os restos mortais do Cel. Antônio Paes de Barros exumados da sepultura nas cercanias da Fábrica de Pólvora do Coxipó do Ouro, encerrados em urna funerária, transladados para a capital da República, e depositados em jazigo perpétuo, em algum cemitério da metrópole de país.” (SOUZA, Antônio Fernandes de. Antônio Paes de Barros e a política de Mato Grosso. Cuiabá: IHGMT, 2001. p. 95).

Motivação não faltava para que a família o levasse para terras cariocas. Após seu assassinato, a implacável perseguição dos seus opositores não parou. A vítima agora era a sua biografia. Ruas com seu nome foram alteradas, documentos importantes de seu governo acabaram incinerados e calúnias diversas eram espalhadas nos jornais e na literatura dos vitoriosos. Ainda, com receio de represálias violentas, sua esposa, filhas e genro se mudaram para o Rio de Janeiro em 1906, em meio a uma crítica situação financeira por conta do bloqueio de seus bens pelo governo revolucionário.

Diante de tamanho aviltamento, não seria nada insensato levá-lo para o Rio de Janeiro onde pudesse descansar em paz, longe dos ódios e próximo dos seus entes queridos. Com o auxílio do estimado professor Paulo Pitaluga Costa e Silva, tive a grata satisfação de conhecer o diretor do Instituto do Itaicy, José Marcos Carpes Vargas. Em uma conversa que tivemos em 22 de dezembro de 2023, Vargas reforçou que essa transladação de Totó Paes para o Município do Rio de Janeiro possivelmente foi promovida por sua esposa Úrsula no ano de 1908 com o auxílio da Marinha e, após efetivada, nunca mais se teve qualquer notícia da precisa localização de seus despojos mortais. Lembrou, ainda, que várias tentativas já foram realizadas no intuito de descobrir o seu paradeiro, inclusive com a intervenção da Secretaria Municipal de Cultura e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas sem qualquer sucesso. Uma pesquisa mais detalhada sobre o caso era realmente necessária, porém os prognósticos não eram nada bons. Dois prováveis cemitérios poderiam ter recebido Antônio Paes: o São João Batista ou São Francisco Xavier (Caju). Em ambos, haviam centenas de milhares de jazigos, ou seja, uma pesquisa visual direta era impraticável.

 Resta-nos torcer para que, em breve tempo, possamos presenciar o seu nome designando novamente as ruas e avenidas de nossa querida Cuiabá e a sua grande obra (a Usina Itaicy) sendo revitalizada e transformada em uma efetiva rota turística. Não menos importante seria a construção de uma escultura em sua homenagem no encontro da MT-251 com a MT-351 (rotatória do Manso), ponto próximo da antiga Fábrica de Pólvora do Coxipó do Ouro, região onde o Cel. Antônio Paes de Barros entregou sua própria vida em defesa do governo democrático, da legalidade e da “liberdade de sua terra natal, a quem serviu com lealdade e desfalecimento” (SOUZA, 2001, p. 95). João Paulo Lacerda Paes de Barros é escritor, advogado, oficial de justiça do TJMT, pesquisador de história regional. 

Fonte: Midianews