COTIDIANO

Cuiabana descarrega e descasca 1,2 tonelada de mandioca por semana

Jeslla, 34 anos, 4 filhos, é uma das pessoas que constroem o lema: “a cidade vive dos que vivem nela”

Redação: Baixadacuiabananews | 21/12/2023 - 20:10
Cuiabana descarrega e descasca 1,2 tonelada de mandioca por semana

Aos 34 anos, Jeslla Gomes Roberto é uma cuiabana que, assim como outras mães, têm jornada diária exaustiva e amor de sobra pelas crias.

Mas, na rotina dela, há algo que a diferencia da maioria das mães.

Além dos cuidados com a casa e os quatro filhos, ela tem 12 horas de trabalho pesado.

O que Jeslla faz é, literalmente, pesado.

Ela descarrega sacas de mandioca que pesam 60 quilos e, por semana, descasca 1,2 tonelada dessa raiz alimentícia multifuncional.

Isso mesmo! Mil e duzentos quilos da raiz apreciada país afora como acompanhamento de churrasco, farinha, tapioca, bolos... 

Além dos cuidados com a casa e os quatro filhos, Jeslla tem 12 horas de trabalho pesado

Há cinco anos, Jeslla vive e sustenta os filhos, Cristian, 17, Paola, 14, Carlos Eduardo, 9, Sofia Valentina, um ano e meio, com a venda de mandioca.

O ponto comercial dela está situado no cruzamento da Rua Sanhaço com a Avenida Tuiuiú, no bairro CPA 4.

“Acordo às 5h e sigo trabalhando até as 10 da noite”, conta ela, sem parar de descascar mandioca.

Gosto do que faço. Sustento minha família e ainda ajudo muitas pessoas”, completa.

Quando diz que ajuda, faz referência aos sitiantes que visita comprando a raiz diretamente na roça, uma maneira de combinar preços menores e garantir o comércio àqueles que não têm transporte para escoar a produção até a cidade.

“Vou às plantações ajudar quem produz e agregar qualidade ao produto que oferece aos consumidores”, reforça.

Mas, como pode ser testemunhado no ponto comercial, ela acaba trazendo outros produtos que os sitiantes não teriam como escoar.

Na lista estão alguns dos alimentos mais comuns na agricultura familiar, como quiabo, limão e abóbora.  

Além da disposição para trabalhar, a força física de Jeslla impressiona quem a assiste descarregando as sacas de mandioca in natura.

A firmeza com que lida com o trabalho e os filhos também chama a atenção.

Aqui, ninguém sai de casa sem que eu saiba com quem e para onde vai. Quando permito que saiam”, diz, enquanto testa a qualidade da raiz com um golpe de faca.

Jeslla é filha única. Nasceu em Cuiabá, mas viveu com os pais em um sítio, na Baixada Cuiabana.

Ela sonhava, desde a infância, em formar uma grande família, com pelo menos 10 filhos.

“Sempre fui muito sozinha. Não gostava de ser filha única. Não tinha com quem brincar”, observa.

“Sempre invejei encontros de famílias cuiabanas, aqueles em que pais e filhos se reuniam aos domingos, naqueles almoços divertidos”, narra ela. 

Jeslla acaba trazendo outros produtos que os sitiantes não teriam como escoar, como quiabo, limão e abóbora

“Não quero mais ter 10 filhos. Parei nos quatro. Não tive nenhum deles pensando em ser sustentada por homem. Tive por que quis mesmo. Porque era meu sonho ter filhos, mas quatro bastam”, sentencia, sorrindo.

Ela diz que lamenta por algumas situações, mas nenhuma delas com arrependimentos.

“Não posso ajudar meu filho, Cristian, a realizar seu maior sonho, o de ser jogador de futebol”, justifica.

Jeslla diz que o filho joga na posição de goleiro. “Ele é um excelente goleiro”, assegura a mãe.

“Só que não tive como mantê-lo treinando em um clube-escola, em Fortaleza, no Ceará. Fui obrigada a trazê-lo de volta, por falta de dinheiro”, completa.

Agora, o maior sonho dela, pode-se dizer, universal entre as mães, é ver os filhos crescerem.

“Continuar com forças e disposição para trabalhar e dar condições de estudo e vida digna aos quatro. Contribuir para que se tornem independentes e seres humanos do bem”, finaliza.   

  

Fonte: Diário de Cuiabá