Em 25 de março de 1646, Portugal proclamou Nossa Senhora da Conceição como padroeira e rainha do país através do Rei Dom João IV. E a devoção expandiu-se para as demais colônias no ultramar lusitano. 

Contudo, partiu de um Bispo cuiabano o pedido para que o santo padre, Papa Pio IX, declarasse a mãe de Jesus como Imaculada e Jesus concebido sem o pecado original. 

Em 13 de outubro de 1849, o Bispo de Cuiabá, Dom José Antônio dos Reis escreveu ao Papa. “Maria ensina que: não consentia que aquele vaso de eleição fosse vítima das comuns injúrias,  porquanto teve conosco  a natureza,  mas não a culpa, Nós humildemente respondemos, e respeitosamente declaramos a Vossa Santidade, ser nosso intimo e ardente desejo, vivíssimo sentimento do nosso coração e firmíssimo pensamento da nossa inteligência que Vossa Santidade, como chefe que é da santa Igreja e supremo juiz em matéria de fé,  solenemente defina, como dogma da igreja Católica,  que a Conceição da bem Aventurada Virgem Maria foi, de todo, imaculada e inteiramente imune de toda mancha do pecado original.” 

Em 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX acata o pedido e declarou dogma de fé a doutrina que ensinava ter sido a Mãe de Deus concebida sem mancha por um especial privilégio divino. A partir de então a santa passa a ser chamada de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. 

Na Bula Ineffabilis o Papa afirmou: “Nós declaramos, decretamos e definimos que a doutrina segunda a qual, por uma graça e um especial privilégio de Deus Todo Poderoso e em virtude dos méritos de Jesus Cristo, salvador do gênero humano, a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada de toda a mancha do pecado original no primeiro instante de sua conceição, foi revelada por Deus e deve, por conseguinte, ser crida firmemente e constantemente por todos os fiéis.”

O dogma da igreja católica afirma que a Virgem Maria foi preservada do pecado original desde o momento de sua concepção. É um dogma da Igreja que foi definido no século XIX, após longa história de reflexão e de amadurecimento. 

Conceição é um nome feminino de origem latina que significa “concepção” ou “início”. Ele está associado à Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo, e é frequentemente utilizado como um título honorífico, como Nossa Senhora da Conceição. 

Nossa Sra. da Conceição foi padroeira do Império brasileiro e permaneceu, tal e qual como em Portugal e continuou assim de 1822 a 1930. 

Em 1930, com a ascensão da República, o título de padroeira foi transferido para Nossa Senhora Aparecida, que nada mais é que uma imagem antiga da Imaculada Conceição encontrada nas águas do Rio Paraíso do Sul e ficou conhecida a partir de então como Nossa Senhora da Conceição Aparecida. 

Em 1858, o bispo Dom José Reis idealiza e constrói o prédio do Seminário da Conceição em homenagem a recém declarada Imaculada no Morro do Seminário. 

No local funcionou a sede do Arcebispado até a década de 1950 e atualmente abriga o Museu de Arte Sacra e a Rádio Bom Jesus de Cuiabá.

O feriado na capital foi oficializado pela Câmara Municipal no mesmo ano da consagração do dogma, em 1854 e permanece até os dias atuai. O feriado e a consagração como imaculada completa  169 anos.

A devoção a Conceição em Cuiabá é muita antiga, antecede a decisão papal e existe em vários espaços sagrados, além do próprio prédio do Seminário e na época colonial. 

No Bairro Porto, por exemplo, na igreja de São Gonçalo, existe uma Irmandade centenária denominada Imaculada Conceição, fundada em 1891. 

A irmandade possui inclusive um espaço no cemitério do Porto, onde os devotos eram sepultados num local reservado. 

Essa história de N.Sra. da Conceição ser padroeira de Cuiabá surgiu por causa da imagem dela na igreja do Bom Despacho no alto do Morro do Seminário. Lembrando que Nossa Sra. do Bom Despacho, Aparecida e Conceição são as mesmas santas. 

Em 1960, o padre salesiano Pedro Cometti, ao criar o Hino de Nossa Senhora do Bom Despacho descreveu a imagem dela como “excelsa Padroeira que abençoa o povo Cuiabano.”  Surge assim esse fake news que a santa seria a padroeira da capital, mas canonicamente nunca foi. Ficou a fama. 

Na Catedral de Cuiabá tem a imagem mais antiga de Nossa Senhora da Conceição do século XVIII em madeira policromada barroca; existe outra imagem na Capela da Santa Casa de Misericórdia não tão antiga; uma igrejinha no Distrito de Passagem da Conceição em Várzea Grande e várias outras capelas nas comunidades rurais de Cuiabá.

No Brasil existem cerca de 533 paróquias dedicadas a virgem imaculada que é certamente uma das mais cultuadas no Brasil.

Esse texto foi escrito com a prestimosa colaboração de pesquisa de Francisco das Chagas Rocha.