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Rio Cuiabá não suporta mais retirada de areia por dragas, diz pesquisador

Geólogo diz que danos podem ser irreversíveis; alternativa seria mover dragas para o Lago de Manso

Redação: Baixada Cuiabana News | 09/02/2023 - 12:26
Rio Cuiabá não suporta mais retirada de areia por dragas, diz pesquisador

As dragas de extração de areia em atividade no Rio Cuiabá estão provocando o assoreamento em excesso do leito em alguns pontos. Segundo análise feita pelo geólogo e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Caiubi Kuhn, o Rio Cuiabá já não suporta mais a retirada de areia. “Conseguimos ver isso com muita clareza. Também não suporta mais a construção de novas hidrelétricas, pois se não chega mais areia, o rio vai só erodindo o que está no entorno, causando maior desequilíbrio ambiental”, afirmou.

O geólogo e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Caiubi Kuhn

A análise foi apresentada após expedição feita no Rio Cuiabá pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Cuiabá, da qual o geólogo Caiubi faz parte, junto ao deputado estadual Wilson Santos (PSD), ao longo do trecho entre a barragem do Manso e a nascente do Rio Cuiabá, em Rosário Oeste, e de lá até a foz no encontro do Cuiabá com o São Lourenço, no Pantanal.

O tema das dragas, aliás, deve ser tratado junto ao Governo do Estado e em audiência pública, segundo o parlamentar. 09/02/2023

Segundo Caiubi, há cada vez menos areia no leito e mais dragas atuando. Foram identificadas na expedição pelo menos 20 dragas em funcionamento, sendo 12 só no trecho entre Cuiabá e Barão de Melgaço. Antigamente, o Lago de Manso era o principal fornecedor de areia, mas com a construção da barragem, a areia não chega mais ao Rio Cuiabá, então o material que tem lá é antigo.

Nas décadas de 1980 e 1990 era comum encontrar praias no Rio Cuiabá. Hoje não encontramos mais. Nos principais rios que levam água para o Lago de Manso, que são os rios Quilombo e o da Casca, surgiram ‘mini pantanais’ nessas áreas. Então uma grande quantidade de areia tem ficado represada dentro do lago, areia essa que antes vinha para o Rio Cuiabá. A partir do momento que essa areia não chega mais no rio, temos um problema de equilíbrio da própria dinâmica de formação dele, entre erosão e reposição”, explica.

O geólogo afirma que esse assoreamento tende a alargar o leito do rio, impactando negativamente em várias questões, como nas enchentes, já que um leito mais largo ou um canal mais profundo não permitirá que o rio extravase para as margens como antes.

“Pelas imagens de arquivos é possível ver que os rios Quilombo e da Casca já têm uma grande quantidade de área assoreada desde a criação da usina no local. Esse é um problema inclusive social, pois conforme a extração de areia se torna mais difícil, também fica mais cara a construção das casas, a construção das obras públicas como escolas, pontes, hospitais. Então temos um problema de ordem ambiental e social”, afirma.

Solução

O pesquisador citou que uma das alternativas a ser estudada é a transposição das dragas para outros rios, podendo, inclusive, o Lago de Manso ser uma das possibilidades como potencial fornecedor de areia. “No entanto, isso precisa ser discutido dentro dos critérios legais. O que nós sabemos é que precisamos de areia e temos problema com a disponibilidade dela. A discussão desse tema precisa avançar”, afirma.

Membro da comissão, o deputado Wilson Santos afirma que esse é um dos assuntos que serão tratados com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), com as prefeituras e com os próprios dragueiros, que devem ser ouvidos.

 Conforme a extração de areia se torna mais difícil, também fica mais cara a construção das casas, a construção das obras públicas como escolas, pontes, hospitais Geólogo Caiubi Kuhn ” 

Fonte: RDnews