
Dois anos após perder o filho em um crime ainda não solucionado, a professora Marlene Alves relata a dor de viver o luto com a família e angústia de não saber o que aconteceu no dia da morte de seu filho, o dentista Cleodson Alves Figueiredo Filho.
Cleodson morreu em setembro de 2019 e, inicialmente, acreditava-se que ele havia sido vítima de um acidente fatal, na MT-060, em Nossa Senhora do Livramento.
No entanto, indícios encontrados pela Polícia Civil levaram a outro caminho de investigação, apontando que o dentista pudesse ter sido vítima de um homicídio ou latrocínio – roubo seguido de morte.
Em entrevista ao MidiaNews, Marlene afirma que o filho sempre foi uma pessoa alegre e rodeada de amigos e nunca colecionou inimizades, algo que também fazia parte das virtudes de Cleodson. Por isso, quando soube de sua morte, não lhe passou pela cabeça que o acidente pudesse ser, na verdade, um crime.
Ela conta que a família ficou sabendo da morte de seu caçula pela imprensa; já ela recebeu a ligação de uma de suas filhas. Marlene relatou que eram 14 horas quando o celular tocou no serviço e do outro lado da linha veio a trágica notícia.
“Foi um dia muito ruim, difícil demais. [...] Eu não acreditava no que estava ouvindo, foi horrível, horrível”, enfatizou.

Ele foi perseguido na rodovia, havia sinais de pneu no asfalto, o carro foi alvejado por balas, também tem sinal de batida no carro do meu filho, forçando ele a capotar, a sair da estrada
Depois de saber da morte de Cleodson, a mãe relembra que largou tudo e foi de carro até o local onde o veículo de seu filho havia capotado. Porém, quando chegou em Livramento o corpo já estava a caminho de Cuiabá. A partir daquele momento, a mãe relata que começou a luta para fazer Justiça.
Rastros de crime
Toda a investigação envolvendo a morte de Cleodson sempre foi um mistério para a família, como conta Marlene.
Além do carro do dentista havia mais um veículo envolvido no acidente. No entanto, os ocupantes fugiram do local após roubar o carro de uma assistente social que havia parado para tentar socorrer Cleodson.
Assim que a Polícia chegou para atender a ocorrência, foi identificado que o carro dos fugitivos roubado. Em alerta com os indícios de crime, os policiais continuaram a perícia e, tempos depois, encontraram também marcas de tiros na lataria do Hyundai HB20 do dentista.
“Ele foi perseguido na rodovia, havia sinais de pneu no asfalto, o carro foi alvejado por balas, também tem sinal de batida no carro do meu filho, forçando ele a capotar, a sair da estrada”, relata Marlene.
Apesar de não ter conhecimento de inimigos, Marlene afirma que o filho vinha cobrando dívidas de seu ex-sócio e de um garimpeiro com quem ele comprava ouro. A mãe explica que antigamente o filho ajudava com as despesas de energia do garimpo e, em troca, recebia uma quantia de ouro correspondente.
Porém, a professora relata que chegou um momento que Cleodson parou de pagar as contas de energia, pois o garimpeiro já não estava entregando-lhe o ouro. Naquela segunda-feira de setembro ele havia viajado para Livramento com o intuito de receber o que estavam lhe devendo.
“A informação que nós tivemos é que sim, a Polícia pegou o depoimento desse garimpeiro e do ex-sócio dele, mas eu não vi, não li, então não sei dizer como foi isso”, afirma.
Dois anos sem respostas
“Silêncio profundo”. É assim que a professora define a resposta da Polícia Civil aos questionamentos da família. Algo que não ficou claro para Marlene é fato de que, mesmo havendo tantos indícios, os investigadores nunca encontraram homens que fugiram do local do crime.
Além disso, ela afirma que qualquer contato que teve com os investigadores sempre foi uma atitude que partiu da família. Segundo ela, nunca nenhum responsável pelo caso sequer ligou para falar qualquer coisa relacionado ao crime que tirou a vida de seu filho.
A última atualização que recebeu dos policiais aconteceu em 2020, antes da pandemia. À época, o delegado 3ª Delegacia de Polícia de Várzea Grande afirmou que o caso estava na mão dos investigadores, porém logo depois o atendimento foi suspenso devido à Covid-19 e o contato ficou ainda mais distante.
“É muito dolorida essa tristeza, essa dor é muito forte [...] Eles poderiam acalentar os nossos corações com respostas ou com soluções e esse silêncio deles é muito profundo e nos deixa decepcionados”, explica.
Em nota, a Polícia Civil se posicionou sobre o caso e afirmou que as investigações sobre a morte de Cleodson continuam. Eles relatam que dez testemunhas já foram ouvidas, porém nenhuma delas passou informações que apontassem um suspeito para o crime.
A Polícia ainda informou que agora trabalha com a linha de investigação sobre uma possível tentativa de roubo do veículo que era conduzido pelo dentista, mas aguarda o compartilhamento de informações solicitadas a outras unidades da Polícia.
Tentando parecer forte todos os dias, a matriarca da família Alves se ampara no amor das duas filhas que lhe restaram para seguir em frente todos os dias.
Descrita como uma pessoa carinhosa, amorosa, alegre e próximo à família e aos amigos, Marlene se emociona ao falar dos sonhos do filho, que amava viajar e se divertir, mas que teve a vida interrompida de forma repentina.
Cheia de fé, a professora acredita na Justiça divina para aqueles que fizeram mal ao seu filho. No entanto, apesar de decepcionada, ela também afirma que ainda tem esperança de que a Justiça seja feita na terra porque, só assim, crê que terá um pouco de paz.
“Dois anos sem resposta, não tem um contato para, pelo menos, aliviar um pouco essa dor que a gente tem no coração até hoje. Mas acredito sim, porque acho que a esperança é a última que morre”, finaliza.