
Justina Ferreira da Silva é uma das 75 personalidades condecoradas com o título de Mestre da Cultura do Estado de Mato Grosso. O projeto “As Mãos Beneditas de Justina” que a homenageia foi contemplado no edital Conexão Mestres da Cultura - Marília Beatriz de Figueiredo Leite promovido pela Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (Secel) com recursos da Lei Aldir Blanc.
A homenagem em vida é o reconhecimento à força que Justina carrega e propaga ao resguardar a cultura alimentar da Comunidade do Ribeirão do Mutuca, uma das seis localidades que formam o Território Quilombola de Mata Cavalo, localizado no munícipio de Nossa Senhora do Livramento.
A condecoração traz ainda a oportunidade de expandir o conhecimento acerca das comunidades quilombolas existentes no estado de Mato Grosso e a força feminina que as movimenta. De acordo com a coordenação do projeto, pesquisas recentes têm apontado que existe um silenciamento quanto a historiografia dessas territorialidades na mídia, nos livros didáticos, dentre outros.
Além de trazer a público a existência desses territórios, a proposta reforça também a importância dos fazeres quilombolas, onde se poderá reconhecer as boas práticas agroecológicas e a valorização desta cultura, em todos os aspectos, dessa forma, a necessidade da manutenção dessas terras pelas comunidades que nelas residem.
Coordenado pela líder quilombola Laura Ferreira, também da Comunidade Mutuca – Território do Mata Cavalo, o projeto está constituindo um acervo com depoimentos, fotografias da comunidade e vídeos como memorial dos saberes e fazeres e em homenagem e comemoração aos 65 anos da mestra Justina. Todo o conteúdo será entregue ao público por meio de um documentário resultante de uma capacitação a ser realizada na comunidade. Também serão realizadas fotografias que irão compor um livro e uma exposição em uma plataforma virtual, sob curadoria de Gilda Portella.
A equipe do projeto já esteve na Comunidade Mutuca – Território Mata Cavalo realizando o registro de um Muxirum, pois o mesmo acontece em data específica a cada ano.
Justina Ferreira da Silva
Dona Justina é filha de Rosa Domingas de Jesus e Miguel Domingos Ferreira de Jesus, bisneta de Vicente Ferreira Mendes, neta de Mácario Ferreira de Jesus, casada com João Pedro da Silva. Trabalhadora rural, cozinheira, doceira, mãe de 7 filhos, sendo 4 homens e 3 mulheres, e com a perda de um filho, ficaram 6 filhos.
Conhecida como “São Benedita” pois, assim como o Santo negro, é cozinheira por ofício. São mais de 50 anos utilizando gêneros alimentícios produzidos na própria comunidade para demarcar a identidade quilombola, o pertencimento territorial, e dessa forma manter a história, códigos alimentares, tradições e inovações.
A cultura alimentar é uma das formas de se reconhecer processos que envolvem as identidades de diferentes grupos. Através das receitas e atividades coletivas como o ´Muxirum´ (um trabalho coletivo que a comunidade organiza para plantar a banana e carpir o roçado), Justina repassa para as novas gerações a herança de seus antepassados para a manutenção da vida e sustentabilidade do local, já que também é ela quem comanda a cozinha da tradicional Festa da Banana.
De acordo com a homenageada, seu bisavô Vicente Ferreira Mendes e avô, conhecido como Macário, faziam melado e rapadura, inclusive o famoso açúcar de barro (açúcar mascavo) em especial para as festas de São Benedito, Festa de São Gonçalo e Festa do Congo, que se originou na comunidade Mutuca. A produção alimentar repassada para seu pai, Miguel Domingos Ferreira de Jesus, que deu seqüência à tradição familiar que hoje é realizada por ela.