
Fotografias da baia de Chacororé, em Barão de Melgaço (113 km ao sul de Cuiabá), tiradas há 4 anos, revelam o começo da morte de um pedaço do pantanal mato-grossense. Foi preciso a baía ser decretada como morta para que os olhos do poder público se voltassem para a degradação ambiental - causada pela interferência humana - que sofreu a região.
Associado à sua infância, o fotógrafo Rodolfo de Oliveira tem lembranças radiantes e peculiares da região. Segundo conta, ele visitava a baía sempre que ia para Barão de Melgaço, para passar férias ou feriados na casa dos avôs de um amigo.
“Era muito incrível ir lá para Barão, e eu lembro até hoje quando eu era pequeno e fui para casa do avô desse meu amigo, teve um sábado que eles falaram assim: vamos para a baía amanhã, no domingo. E eu falei, como assim vamos para a baía domingo? É muito longe, meu pai não vai me deixar ir”, ri, com a confusão que fez com o estado da Bahia.
Na época, não havia estrada asfaltada e eles pegavam ônibus ou iam de carro para a planície alagada. Ele se recorda particularmente das épocas de cheia e seca, admirando a imensidão da paisagem.
“Eu lembro, na minha infância, muito bem da cheia e da seca, das duas épocas. Porque tinha época que quando íamos, a água estava quase batendo na casa dos avós dele, que era bem na beira da baía. A água batia na porta, lembro bem disso na minha cabeça. Tinha época, que a praia era super longa, e a gente brincava na areia, tinha travinha [de futebol] na época da seca”, relembra.
Em 2017, Rodolfo foi fotografar a Festa do Divino Espírito Santo no município, e para revisitar as memórias da infância, retornou para a baía de Chacororé. “Foi surreal, foi muito bom fotografar a baía de novo. E quando eu fui, não estava na época de cheia, estava começando a época de vazante. Dá pra ver um pouco da praia, os jacarés”, descreve.
Após 3 anos, em que a região está praticamente seca, o fotógrafo lamenta a situação. Ainda que tenha registrado a grandiosidade das águas, Rodolfo atenta para a cultura e diversidade ambiental do local, que impulsiona o turismo e economia de Barão de Melgaço.
“É um local muito cultural, tem muitas tradições. Tem muita gente ali que depende daquele local para viver, que o sustento é ali, questão de turismo, pesca. É muito triste o que está acontecendo com a baía”, lamenta.
O descaso
Uma denúncia feita pelo engenheiro civil e mestre em Ambiente e Desenvolvimento Regional, Rubem Mauro, aponta que há 10 anos os órgãos fiscalizadores, assim como a Prefeitura de Barão e o Estado vêm sendo alertados sobre os danos ambientais registrados na região, mas foram omissos.
Segundo o engenheiro, a construção de uma estrada que liga o perímetro urbano até o último canal da baía foi o motivo precursor da degradação da região. Fora as intervenções humanas, a seca que assolou Mato Grosso em 2020 também prejudicou a baía, propiciando o esvaziamento das águas.
Agora, na “bacia das almas”, o governo do Estado afirma que tomará uma série de adequações para manter a planície alagada. De acordo com a secretária de estado de Meio Ambiente, Mauren Lazzaretti, a previsão é que as adequações sejam concluídas até a próxima seca desse ano.
“Ainda nesse mês de fevereiro, vamos executar as ações e verificar se há algo para se responsabilizar, por conta das acusações que existem de que havia execução de obras na região”, apontou Mauren, durante entrevista coletiva na quarta-feira (13).
O plano de recuperação da planície alagada, segundo explica Mauren, é a desobstrução de canais que levam água para a baía e reconstrução de barragens que mantêm a planície alagada.
O deputado estadual Max Russi (PSB) relembrou os tempos em que frequentava a baía. “Eu, particularmente, quando muito jovem pescava muito ali. Sempre um lugar com muito peixe, muita água, uma imensidão de água, o que nos impacta bastante. Teremos que tomar algumas medidas, providências para efetivamente a gente consertar isso aí”, narra.
De acordo com ele, a morte de Chacororé impactaria negativamente o governo do estado, levando a uma repercussão internacional, já que se trata do pantanal mato-grossense.
“O que representa o pantanal mato-grossense para o mundo , sem sombra de dúvidas, se não tomarmos providencias rápidas, nós teremos sim uma imagem negativa do nosso estado”, confessa.