
Há pouco mais de um mês,a vegetação que margeia a MT-040, rodovia que liga Cuiabá a Barão de Melgaço (113 km ao sul da Capital) vem sendo consumida pelas chamas dos incêndios florestais. Motivo pelo qual, se tornou comum ver animais atravessando a via para fugir do fogo. Nos últimos 40 dias, Corpo de Bombeiros Militar (CBM) já fez 140 atendimentos na região, totalizando cerca de 630 horas de trabalho em operações de prevenção e combate.
“Foi questão de minutos para que a casa onde vivi por quase 20 anos fosse completamente destruída pelo fogo”. O relato é de Nilson Silva, 49, mais conhecido como Tigrão. A residência de madeira era habitada por ele, um filho e um cachorro, que foi resgatado por militares do CBM após ficar preso no momento do incêndio. A casa fica às margens da rodovia, na comunidade Barranco Alto.
Enquanto conversava com nossa reportagem, Tigrão enchia baldes de água para tentar evitar que o fogo atingisse outras propriedades na região de Santo Antônio do Leverger. Com ajuda de vizinhos, ele puxou uma mangueira e começou a encher diversos baldes, que eram despejados contra as chamas, porém, o vento fez com que rapidamente labaredas de fogo tomassem conta do local.
Não demorou muito para que 4 bombeiros chegassem para atender a ocorrência. Mas, já era tarde, a casa de Nilson havia se transformado em cinzas, restando apenas dois freezers queimados e uma panela de pressão no fogão. “Agora é trabalhar e construir outra”, disse Tigrão emocionado.
O trabalho tem sido árduo para os bombeiros que atuam naquela região, pois os incêndios florestais tomaram conta de praticamente toda a rodovia estadual, sendo mais intenso entre as cidades de Santo Antônio e Barão de Melgaço. Além da mata, as chamas atingiram a sinalização resultando em diversas placas de trânsito queimadas. A visibilidade também está prejudicada pela densa fumaça que encobre toda a localidade.
Tem dias que não conseguimos nem almoçar”, disse um dos bombeiros que ajudava no combate às chamas que atingiam a propriedade de Tigrão.
Rastro de destruição pelo caminho
Comunidades rurais de Barão de Melgaço e do distrito de Mimoso também foram atingidas por incêndios. Uma casa que fica próxima à MT040, na comunidade Fazenda Mimoso, por exemplo, foi destruída pelas chamas. Por sorte, nenhum morador estava no imóvel no momento em que as chamas atingiram o local.
Fábio Valley, 32, é um dos vizinhos que se empenhou na luta contra as chamas. Segundo ele um barulho muito forte de explosão acordou todos que vivem na localidade.
Era noite quando tudo ocorreu. Tinha um botijão na casa e ele explodiu após contato com o calor provocado pelo incêndio, que veio da mata”.
Valley afirma que o fogo na região é criminoso, pois já presenciou pessoas colocando fogo na mata e outras situações em que as chamas foram ocasionadas por lixo. “Bituca de cigarro é jogada constantemente na rodovia e isso em mato seco é o mesmo que querosene em fogueira. Além disso, garrafas de vidro de cerveja refletem o sol e também podem provocar fogo, como já aconteceu por aqui”. Os animais têm sofrido com os incêndios. Os que não morrem queimados, são atropelados, pois invadem a rodovia na tentativa de fugir do fogo. Ficou ainda mais comum presenciar bois, famílias de capivaras, cotias, tatus e lagartos fazendo travessia ou na margem da rodovia.
Eles também estão tendo dificuldade para se hidratar, uma vez que os lagos estão baixos ou secos, devido ao longo tempo de estiagem.
É uma tristeza muito grande presenciar toda essa situação e se sentir incapaz por não poder ajudar. Porque chuva só quem pode mandar é Deus”, diz Fábio.
Muitos animais silvestres perecem
O CBM-MT, sob a coordenação do Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional (Ciman), informou que possui nos municípios de Barão de Melgaço e Santo Antônio de Leverger, Bases Descentralizadas Bombeiro Militar, que são instrumentos de resposta temporários para a prevenção e combate aos incêndios florestais nas localidades, estruturadas por meio do planejamento previsto no Plano de Operações para a Temporada de Incêndios Florestais da corporação para o corrente ano.
As equipes estão disponíveis diuturnamente desde o início de agosto e permanecerão enquanto durar o período crítico na região. As guarnições já fizeram mais de 140 atendimentos nos últimos 40 dias, totalizando cerca de 630 horas de trabalho em operações de prevenção e combate.
Quanto aos animais, o Comitê do Fogo da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) possui posto para socorrer as espécies atingidos. A pasta integra a força-tarefa para atendimento aos animais silvestres vítimas dos incêndios florestais, em conjunto com outros órgãos dos governos de Mato Grosso, federal, entidades de classe, terceiro setor e instituições privadas.
A secretaria ainda é responsável pela destinação, manutenção e encaminhamento dos animais de vida livre resgatados ou recebidos pelo Batalhão Militar de Proteção Ambiental, órgão responsável pelo resgate. As solicitações de resgate e denúncias devem ser feitas por meio do 190, da Polícia Militar.