
A rotina é puxada e a preparação da madeira um tanto quanto intensa. Quando começa a entalhar o instrumento em uma peça inteira de madeira, sem remendo, o que depende muito de seu talento, ele só para quando termina. Alcides Ribeiro dos Santos, que hoje vive em Santo Antônio de Leverger, conta como é sua rotina.
Madeiras usadas por ele para produzir as violas de cocho são doadas por quem conhecem seu trabalho, entre elas estão a sarã, ximbuva e o pinho cuiabano
A comunidade em que vive também foi retratada pelo fotógrafo José Medeiros no Expedição 300 - O Rio das Lontras Brilhantes. Quando questionado sobre onde recolhe a madeira, ele logo diz que cerca de 90% da matéria prima que vira viola de cocho é ganha.
Diz que as pessoas já sabem que ele é o artesão que mais produz o instrumento e, por isso, levam até ele regalias como ximbuva, pinho cuiabano ou sarã de leite, que são as madeiras que ele mais usa em suas produções. O tampo, segundo o artesão, é feito de raiz de figueira branca e todas as outras peças são cedro-rosa. Este cotidiano que repete há mais de 20 anos.
Ele é detalhista enquanto talha o material. A viola é modelada de uma só madeira e depois recebe tampa e mais detalhes. Enquanto isso, o filho serve suco
Esta arte ele aprendeu com seu pai. Dos filhos que seo Caetano Ribeiro teve, ele foi o único que se interessou pela arte. Em outro tempo, quando a viola ainda não era tão valorizada, relata que sofria preconceito até dentro de casa sendo chamado de "jeca" por gostar tanto do que fazia.
Hoje eu viajo o Brasil inteiro mostrando a viola, dou oficinas, envio os instrumentos para pesquisadores e músicos de toda parte do mundo". Há dois anos um dos guitarristas mais famosos do país, Dado Villa-Lobos, disse que queria muito comprar uma de suas violas e replicou. "Falou que há muito tempo pesquisava sobre meu trabalho, aquilo me deixou muito grato e feliz. Tenho orgulho do que eu faço", conta.
Instrumentos são enviados para todo mundo. Encomendas são feitas através de contatos via internet, telefone e indicações boca a boca. Ele é muito feliz
Alcides conta que seu marketing, além da história que continuou traçando após o legado de seu pai, é o boca a boca e publicações que faz em seu blog. Ele pretende continuar passando os seus ensinamentos para a nova geração e seus filhos.
Ele passa cerca de 8h ao dia produzindo os instrumentos e cerca de 5 delas ficam prontas neste tempo. Desde os 16 anos, ele leva isso como profissão.
Enquanto talha uma das violas, o filho chega com uma limonada gelada para aliviar o calor do pai. "Quero que continuem minha história, sejam meus filhos, ou outros das novas gerações. Não quero que isso acabe, é nossa cultura".