
O município de Santo Antônio do Leverger (34 km ao sul de Cuiabá) passa pela maior enchente dos últimos 15 anos. Famílias, animais e automóveis estão ilhados com o aumento do volume do rio Cuiabá chegando a 8 metros e 44 centímetros.
O prefeito do município, Harrison Ribeiro (PSDB), quer decretar situação de emergência e dispensar os 40 mil foliões que estão no município para o Carnaval. Mas a Defesa Civil é contrária. A água do rio continua subindo em direção a chamada cota de alarme, que é de 9,5 metros.
Foram contabilizados 250 famílias de comunidades ribeirinhas "ilhadas" e 14 famílias desabrigadas. No bairro Lixá, a grande elevação da água fez com que cheiro de urina e fezes chegassem a água. A casa do pescador Natalino Manuel de Arruda ficou com todos os cômodos alagados e, como não há para onde escoar, teve que elevar a cama com tijolos para conseguir dormir. Apesar desta situação, não quer fazer como os vizinhos que abandonaram as casas, indo para a de parentes. "Não saio daqui nem a pau".
O prefeito afirmou que iria desobedecer a Defesa Civil para que seja decretado situação de emergência. "Se subir mais alguns metros, nós vamos fechar a cidade". Ele lembrou que a zona rural está toda alagada com o aumento de quase 8 metros nos barrancos do rio. Isso pode ser comprovado na comunidade Praia do Poço, localizado a 9 km de Santo Antônio.
Lá a igreja e o ginásio de esportes foram afetados, assim como os pesqueiros do Santana, Sítio da Vovó e do Célio em que cavalos e gado não têm para onde ir. Havia pessoas que estavam a 2 dias sem sair do local.
Para ter acesso aos moradores do bairro Porto do Engenho, a reportagem teve que ir na canoa do pescador aposentado Gerônimo Angelo do Silva. A casa dele foi uma das poucas que não foi inundada pois havia colocado mais de 30 caminhões de terra para aterrá-la. Por causa disso, cedeu parte de sua residência para 2 vizinhos colocarem seus objetos.
Um deles, José dos Santos Garcia, 84, colocou uma cadeira na varanda, como se fosse a cama, pois estava com medo de que a água invadisse sua casa. "Se eu não tivesse feito comida ontem (domingo) não ia ter o que comer hoje porque não tinha como cozinhar". Garcia mostra a plantação de mandioca perdida pela cheia e uma "ilha de lixo" em seu quintal, trazida pela água. Nela havia restos de isopor, embalagens de iogurte e detergente.
O aumento do nível da água, que começou na sexta-feira (12), fez com que a margem do rio e a avenida Beira Rio fosse tomada. Famílias, com a de Anísio Ribeiro da Silva, tiveram que levantar todos os móveis. A casa da filha dele foi quase toda tomada pela água. O redário também.
"Perdemos 2 camas e colchões, além da máquina de lavar roupa", disse a esposa, Luzia Monteiro, que lembra de no domingo estar com água até o peito. "Tenho mais de 30 anos morando aqui e nunca encheu deste jeito", lamenta Anísio Ribeiro.
Defesa Civil
Segundo ele, para que isso seja feito deve-se levar em consideração alguns pontos como a privação das pessoas no direito de locomoção, neste caso, os que se encontram ilhados podem sair de lá por meio de barcos ou canoas.
O coordenador lembrou ainda que essa situação é normal para comunidade. "Conversamos com várias pessoas e elas disseram que isso ocorre com frequência". Ele acredita que, se continuar as chuvas, há possibilidade de aumentar o nível do rio. A chamada cota de alerta do rio Cuiabá em Santo Antônio é de 9,5 metros.
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