PALMYRO PAES DE BARROS

A história de poder e ruína do homem que mandava e desmandava em Santo Antônio

Redação: Redação - Leverger News | 02/08/2017 - 00:00
A história de poder e ruína do homem que mandava e desmandava em Santo Antônio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Corria o ano de 1886 e o comendador Joaquim José Paes de Barros instalou na Conceição a primeira usina açucareira de Mato Grosso iniciando uma dinastia de usineiros em Santo Antônio do Rio Abaixo. Logo o filho Totó Paes se desligou do estabelecimento para criar a Usina Itaicy inaugurada no ano de 1897. Em 24 de maio de 1928 foi a vez do neto Palmyro Paes de Barros pôr em funcionamento as potentes máquinas da Usina Maravilha para fabricar açúcar, álcool e aguardente de excelente qualidade denominada Formidável.

Em março de 1929 ocorreu o primeiro sobressalto na caminhada empresarial do usineiro: pavoroso incêndio provocado pelo descuido de um trabalhador consumiu o depósito de álcool e só não assumiu proporções maiores graças aos esforços dos demais trabalhadores e dos moradores de Santo Antônio que atravessaram o rio para apagar as chamas.

Dona Filhinha, esposa do coronel Palmyro, creditou o êxito no combate ao fogo à intervenção do padroeiro local e desde então o estabelecimento assumiu a razão social “Usina Santo Antônio”, mas todos a continuavam chamando por Maravilha.

Entre maio e novembro, época da safra, o Porto do Engenho, onde estavam os armazéns, ficava bastante movimentado com a chegada e saída dos batelões que transportavam as cargas para os centros de consumo.

O cotidiano na Maravilha não existia sem a presença do coronel Palmyro e seu olhar severo, disciplinador de condutas, figura que comandava a vida de todos com poder absoluto. Expoente da UDN em Santo Antônio mandava tanto na usina quanto na cidade, pois era patrono de pessoas colocadas nos principais cargos públicos (como os de prefeito e delegado de polícia). No ano de 1948, veio o segundo sobressalto: uma queda brusca na produção levou o usineiro a contrair volumoso empréstimo bancário em condições bastante desvantajosas. Desde então, enfrentou sucessivas crises financeiras.

O golpe de misericórdia para a ruína total foi uma dissidência nas relações familiares: desentendeu-se com o filho que havia trancado o curso de medicina no Rio de Janeiro e viera auxiliá-lo no saneamento financeiro da usina. Expulsou mulher e filhos da propriedade ficando sozinho no comando do estabelecimento (jamais se reconciliaram).

Em 1961, aos 70 anos de idade, teve que vender a usina para saldar os empréstimos bancários. Ficou sem nada e com uma única mala de roupas foi morar de favor na Pensão Santa Helena em Leverger. Por insistência de alguns poucos amigos, políticos da capital lhe arrumaram uma aposentadoria que mal dava para comprar os remédios que tomava. Faleceu na madrugada do dia 27 de outubro de 1967 na Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá.

O corpo foi trasladado para Santo Antônio e velado na Prefeitura Municipal ao qual poucos compareceram para dizer um adeus final. As despesas com o funeral foram pagas pelo amigo Pedro Alexandrino Batista, o Pinduca. Assim morreu aquele cujo poder sobre Santo Antônio do Rio Abaixo jamais fora questionado em tempos de outrora.

A imagem da Usina Maravilha que ilustra a publicação foi extraída da obra “Santo Antônio do Rio Abaixo: a história de um empresário de Leverger”, de Antônio Ferraz de Oliveira.

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Fonte: * Me. - Marcos Amaral Mendes