DE SANTO ANTÔNIO PARA O MUNDO

Luizinho Ribeiro é apontado como mais completo e mais tardio artista do teatro mato-grossense

Redação: Redação - Leverger News | 21/07/2015 - 00:00
Luizinho Ribeiro é apontado como mais completo e mais tardio artista do teatro mato-grossense

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Luiz Carlos Ribeiro é o mais completo e o mais tardio artista do teatro mato-grossense. Tardio no sentido de ter começado a carreira artística com mais de 20 anos, beirando os trinta, depois de formado bacharel em Direito na última turma da Faculdade Federal de Direito de Cuiabá, embrião da nossa Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em 1969 e que, no ano seguinte, 1970, registra o surgimento da Uniselva.

Jurista por obrigação de ganhar o pão de cada dia e artista por vocação descoberta ainda na infância quando foi ‘pego pela mão’ pela professora do primário Maria Lacerda. Luiz Carlos Ribeiro diz que esse ‘alumbramento’ aconteceu no dia que entrou no ‘teatro’ pela primeira vez, no início da década de 50, em sua cidade natal, Santo Antônio do Leverger, ou Santo Antônio de Rio Abaixo. Ele é cuiabano por adoção, inclusive com título de cidadania concedido pela Câmara Municipal de Vereadores.

A professora Maria Lacerda, a mesma que pegou na mão de Luiz Carlos para ensinar a escrever o “a e i o u”, naqueles idos de 50, numa pequena cidade, sem energia elétrica, estava além de seu tempo, fazendo teatro. Para esse teatro que ele fora convidado e foi assistir junto com a família.

Luiz Carlos conta – que a vida da gente é contar – que a representação aconteceu num salão da prefeitura e o cenário e coxia eram feitos com lençóis brancos, enquanto a iluminação com lampiões Petromax. Como uma ilusão, o menino via velas de navios e aquilo o cativou. Da história, lembra pouco, era o caso de uma empregada que tinha ‘roubado’ o perfume da patroa, ou coisa assim, cujo texto era da própria Maria Lacerda. Ao final, Luiz Carlos, menino, lembra que ele se disse: “Eu quero fazer isso”.

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Além da professora, marcaram a infância do jovenzinho, as histórias da avó Maximiana como também a Preta da Fronteira, cabocla ameríndia, animadora cultura, rezadeira, benzedeira, dançarina de siriri – como a avó – contadora de histórias que o levava para assistir as festas de santo, que o levou para os primeiros contatos com a cultura popular, lógico, sem saber o que era cultura popular.

Quase no final da década de 50, a família muda-se para Cuiabá. Luiz Carlos contava com 14 anos e foi estudar o ginásio no Colégio dos Padres, o Liceu Salesiano, por uma decisão paterna, apesar das dificuldades para sustentar a prole de oito filhos. Acontece, como tem que acontecer, nesse ano, o reitor das instituições salesianas pelo mundo estava em visita ao Brasil, com data marcada para visitar Cuiabá que, além do Liceu, tinha também o Patronato Santo Antônio, do Distrito do Coxipó.

Foi no Salesiano que acontece o segundo alumbramento com o teatro, com o padre Raimundo Pombo, que dirigia o grupo de teatro da escola. Ele começa como contraregra, mas tinha uma capacidade de decorar textos e,, por essa capacidade foi escolhido para dizer uma frase de recepção de boas vindas ao reitor em italiano. Aí, nesse momento, o aluno Ribeirãozinho (como era chamado na escola) tem sua primeira aula de impostação de voz com o maestro Veronezi, que se chama “partitura sonora” dentro do teatro. Depois de decorado o texto, o professor foi trabalhar com o aluno a musicalidade da linguagem italiana, a língua materna do reitor visitante.

Luiz Carlos, como sua memória invejável, nos recita os ‘versos’ ditos ao reitor. Ao final, no “grazie, grazie per tanti favore”, o reitor se encantou com a sonoridade do pequeno jovem e ordenou que se desse uma bolsa de estudo e desafogou o pai de ter que pagar as mensalidades durante todo o ginásio e os dois nos de científico.

Ele faz todo ginásio e o segundo ano do Científico no Colégio dos Padres e vai fazer o terceiro Cientifico Clássico no Colégio Estadual, onde teve aulas com os professores Nilo Póvoas, Cesário Neto, entre outros professores maravilhosos. “O que sei de gramática devo a esses professores”, avisa. Terminado o Cientifico – apesar de certa vocação para as ciências sociais, ou humanas, como Antropologia, mas o pai, de uma pensão, na Rua Barão de Melgaço, não tinha condições de custear e ‘optou’ pelo Direito, a única faculdade de ensino superior em Cuiabá.

Formado, vai trabalhar no escritório do deputado estadual Emmanuel Pinheiro, um dos professores da Faculdade, e depois no escritório de outro deputado Nelson Ramos - e foram 40 anos de exercício profissional, paralelo ao trabalho como servidor da UFMT.

Durante o governo de José Fragelli, na Secretaria de Educação, sob a direção da jovem Maria da Glória Albuês, um projeto “Tempo de Teatro”, que consistia, no mês julho, de cada ano, em reunir os produtores, fazedores de teatro de todo o Mato Grosso (ainda não dividido) para uma grande encontro, com participação de teatrólogos, como Rubens Corrêa, Jesus Chediak, Amir Haddad, Glorinha Beuttenmüller, Paulo Coelho, antes de ser esse fenômeno, e Raul Seixas, que era ator também, entre tantos, quando se faziam oficinas, apresentações de peças teatrais, com debate posterior as apresentações, enfim uma escola de teatro.

Ele, Luiz, diz que fez muitas dessas oficinas, mas não atuava, ‘estava mais olheiro’ de teatro e namorando a ideia de ser diretor e não ator. Vem o governo de Garcia Neto e o projeto Tempo de Teatro é suprimido do cardápio para contenção de despesas. O teatro, repara – quem fala é o repórter – sempre é um dos primeiros a sofrer os cortes de contenção de despesas, não é de hoje.

O movimento teatro volta a estaca zero. Glorinha Albuês vai pra o Rio, estudar, Lúcia Palma para Minas, enquanto Luiz Carlos continua e um dia Camilo Ramos, representante do núcleo de Mato Grosso da Fenata (Federação Nacional de Teatro Amador, ou Festival), que estava realizando um congresso nacional para se tornar uma confederação - e é criada a CONFENATA e aqui em Mato Grosso, a FEMATA – Federação Mato-grossense de Teatro Amador, depois o “amador” foi suprimido, e Luiz Carlos é aclamado o primeiro presidente.

A Femata foi ter um papel importante no movimento teatral, com realização de circuitos, e vão surgir novos grupos de teatros e uma nova leva de atores. Em Brasília, Luiz Carlos conhece gente como Tácito Freire Borralho, teatrólogo do Maranhão, que estava na coordenação da criação da confederação, a futura Confenata. Depois de criada a Femata acontece uma oficina com o próprio Tácito, que ficou maravilhado com o número de participantes, 70 e o teatro em Mato Grosso estava ressurgindo.

 

 

 

 

Fonte: Diário de Cuiabá