
Conduzido pela arte da poetisa Luciene Carvalho, seguido da voz firme, coloquial, protocolar e didática do acadêmico José Carrara, escolhido para saudá-lo, João Carlos será imortalizado na AML e fará um breve relato de suas experiências, no apreço ao “feitiço” da mata e do cerrado, da cultura popular, das lendas e do jeito simples de se viver a vida.
“Por isso moro num sítio, afastado do burburinho da cidade grande, junto com minha mulher Cristina, ao sopé do Morro de Santo Antônio, um dos pontos de maior historicidade de Mato Grosso, milenar referência do povo bororo e baliza dos primeiros bandeirantes paulistas que se apoderaram desta terra”, se descortina.
São mais de 30 anos de paixão pela “terrinha” que lhe proporcionou ocupar a cadeira de número 27, da qual é patrono José Barnabé de Mesquita, pai do primeiro presidente da AML, e que foi ocupada, ao longo dos tempos, por duas ilustres figuras da vida literária e cultural em Mato Grosso: Ana Luiza Prado Bastos, mulher atuante e dinâmica que muito bem representou a classe feminina, sendo pioneira nesta instituição, e Ubaldo Monteiro da Silva.
Ainda, a ligação e afeição de João Carlos com o casarão que abriga a AML vêm de tempos: “Certa tarde, Aníbal Alencastro e eu, aqui dentro deste Salão Nobre, estávamos debaixo de um enorme guarda-chuva, sob intensa tempestade que varria os céus e as ruas cuiabanas no final da década de 1990. Falávamos tristes sobre o estado deplorável em que se encontrava a multissecular casa do Almirante Augusto Leverger, com fissuras em suas paredes, telhado aos frangalhos e com as suas portas e janelas comprometidas pela ação fatal do tempo”, relembra.
Diferente da Carta de Pero Vaz de Caminha, com diversos equívocos, e considerado o primeiro documento escrito da história do Brasil sendo, portanto, o marco inicial da obra literária no país. João Carlos Vicente agora compõe o mundo de literatos, poetas, contistas, novelistas e cultuadores da memória histórica e da intelectualidade matogrossense, da AML, que detém de 40 cadeiras.
O paranaense que entra para a história da Literatura de Mato Grosso, já é considerado cidadão cuiabano e matogrossense e em mais 14 municípios: em Poconé, Santo Antônio do Leverger, Barão de Melgaço, Guiratinga, Torixoréu, Diamantino, Nobres, Reserva do Cabaçal, Porto Esperidião, Luciara, Vila Bela da Santíssima Trindade, Acorizal, om Aquino e Jauru. Além de possuir comendas e méritos da Assembléia Legislativa e dos três exércitos, entre outras instituições, bem como honrarias, também é membro “Honoris Causa” da Academia Brasileira de Belas Artes e já ocupou a pasta da Secretaria de Estado de Cultura.
Não adepto a discursos o novo membro da Academia Confessa que tem certas dificuldades com frases belas e poéticas. “Me identifico com a pesquisa histórica, com a etimologia e toponímia, áreas que me permitem honrar minha entrada nesta Casa de saber e de conhecimento”, e destaca o filósofo e pensador Sócrates: “Todo o discurso deve ser construído como uma criatura viva, dotado por assim dizer do seu próprio corpo; não lhe podem faltar nem pés nem cabeça; tem de dispor de um meio e de extremidades compostas de modo tal que sejam compatíveis uns com os outros e com a obra como um todo.”
Em sua vida pública sempre buscou proferir, dentro das necessidades de cada momento, as melhores informações e recepções por meio de discursos. Ela lembra, quando esteve à frente da Secretaria de Estado de Cultura, que nas solenidades foram produzidos honoráveis discursos para serem lidos, em atendimento protocolar, no entanto, os colocava no bolso do paletó e lá ficavam.
Retomada literária
A Academia Matogrossense de Letras teve períodos áureos e agora retomou o sentido de referência cultural e literária no Estado, que sempre foi e que está sendo inserida novamente para a população. “Ela foi por um tempo muito fechada aos olhos da população e desde o ano passado ocorre uma nova maneira da sociedade se relacionar com a Instituição”, destaca o historiador. Por exemplo, a AML nunca foi apresentada num Shopping, que é um ambiente aberto ao público, e recebeu uma exposição itinerante, no primeiro trimestre de 2014, e foi bem aceita pela população.
“Existe na Casa Barão de Melgaço um ambiente de grande densidade intelectual, de amizade sincera e comprometimento. Estou certo disso, vim para contribuir. Sou um homem de desafios e missões. Nesta vida, já as tive, muitas, e certamente a minha entrada na Academia Matogrossense de Letras é mais uma dessas missões, disso não tenho nenhuma dúvida.”, assinala João Carlos Vicente Ferreira.
E credita sua entrada nesta Casa aos convites e incentivos para que se candidatasse a uma das vagas existentes, a alguns nomes, como Yasmin Nadaf, Elizabeth Madureira Siqueira, José Cidalino Carrara, Moisés Martins, Avelino Tavares, Benedito Dorileo e, por fim, o convencimento impositivo do presidente Eduardo Mahon.
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Currículo Cultural
João Carlos Vicente Ferreira nasceu no dia 27 de março de 1954, na cidade de Santa Cecília do Pavão, região norte do Paraná. Sua família por parte de pai é do sul do Estado, região de Guarapuava, tendo seu bisavô, Fábio Vicente Ferreira, lutado na Revolução Federalista, ao lado de Gumercindo Saraiva. De seu lado materno todos são paulistas, da região de Águas de Santa Bárbara.
É casado com Eleonor Cristina Ferreira e são pais de Ana Carolina, Maria Rita e João Guilherme, que lhes deram cinco netos: Gian Lucca, Sofia, João Miguel, Yuri e João Davi.
Atuou profissionalmente em várias frentes de trabalho, tendo sido empresário no ramo da publicidade por muitos anos no Estado do Paraná.
Foi articulista do jornal O Estado do Paraná, de circulação interestadual, com sede em Curitiba-PR (período 1984-1987). Da mesma forma atuou no jornal Correio de Notícias, com sede em Curitiba-PR, de circulação interestadual, grande tiragem e periodicidade diária.
Atuou como redator do jornal A Gazeta Regional, de circulação quinzenal, com sede em Mandaguari-PR (período 1986¬-1988).
Também foi Editor do Jornal dos Municípios, órgão oficial da Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense, com sede em Curitiba-PR (período 1988).
Idealizador e apresentador do programa de televisão Perfil Paranaense, na TV Maringá - Rede Bandeirantes, na cidade de Maringá-PR (período 1988-1989).
Idealizou, coordenou e realizou o I FEST VÍDEO, Festival Nacional do Vídeo Amador, em 1990. Este evento obteve intensa repercussão na mídia nacional, com participação de 17 Estados da Federação e 146 vídeos inscritos, recebendo elogios da crítica especializada.
Diretor cultural da Fundação Júlio Campos, entidade civil sem fins lucrativos, com sede em Várzea Grande¬MT (período 1992-1994).
Foi diretor do jornal O Estado de Mato Grosso, em circulação desde 1939, em Cuiabá-MT (período 1995).
Idealizou e instituiu o Projeto Memória Viva, que objetivava a recuperação, registro e divulgação da memória histórica dos Municípios do Estado de Mato Grosso. Os veículos utilizados para a divulgação deste projeto foram vídeos documentários, fascículos ilustrados e o programa de TV Você Sabia?, na TV Brasil Oeste.
Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso 2002-2010
Secretário de Estado de Cultura de Mato Grosso (período maio/2004 a fevereiro/2008)
Presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura (2007)
Editor da Editora Memória do Brasil, com sede em Cuiabá, desde agosto de 1996, até os dias de hoje.
Pesquisador e editor já escreveu diversos livros, dentre os quais podemos citar Mato Grosso e Seus Municípios (1996), com tiragem de 28 mil exemplares em quatro edições posteriores, Enciclopédia Ilustrada de Mato Grosso (2003), Etimologia Toponímica de Mato Grosso (2011), Mato Grosso Política Contemporânea (1993), Breve História de Mato Grosso e de Seus Municípios (1992), que divido com o historiador Paulo Pitaluga, Cidades de Mato Grosso Origem e Significado de Seus Nomes (1996), já com quatro reedições e que divido a capa com o historiador Padre José de Moura e Silva, História de Campo Verde (2012), História do Paraná e de seus Municípios (1995), História do Pará e de seus Municípios (1999), Coleção Municípios na História, com 13 títulos da região do Vale do Rio Cuiabá (2010), Coleção Municípios de Mato Grosso, da Fundação Júlio Campos, com 9 títulos.
Livros em produção e no prelo:
Pela Fresta da Janela, romance ambientado no período da Guerra do Paraguai, edição do autor;
De Lisboa à Brasília, trabalho de etimologia e toponímica sobre todos os municípios dos países de língua portuguesa, em número de oito distribuídos por três continentes;
Diamantes, livro em fase inicial de pesquisa que versa sobre a história do diamante em Mato Grosso;
Senhor Divino Espírito Santo, livro no prelo, com previsão de lançamento no dia 6 de junho de 2014.