MATO GROSSO
Todos os sábados, o músico Bruno Pisaneschi tem um encontro marcado com a tradição mato-grossense. Durante nove meses do ano, ele dá aulas de viola de cocho, no Sesc Arsenal, em Cuiabá, para uma turma de nove alunos adolescentes. Uma rotina que já se repete há cinco anos e uma forma de passar adiante as tradições locais que surgiram quase por acaso na vida deste fluminense. E pensar que ele se aproximou da música em busca de rock ‘n’ roll.
Pisaneschi nasceu em Resende, no Rio de Janeiro, mas já se considera da terra. Chegou ao Mato Grosso com sete anos. Já são 25 em Cuiabá, interrompidos apenas pelo período em que estudou fora. Bruno se formou bacharel em violão no Conservatório Brasileiro de Música, na cidade do Rio de Janeiro.
O interesse em tocar um instrumento surgiu “até meio tarde, aos 14 anos”, como ele conta. Primeiro queria ser guitarrista em uma banda de rock. “Eu era mais radical, só gostava mesmo é de rock ‘n’ roll”. Ao mesmo tempo em que tocava com uma banda, começou a estudar violão. Foi assim por dois anos, até que ele optou pelo instrumento acústico. “Mesmo sendo as mesmas notas, a mesma afinação, a partir de um momento são dois instrumentos completamente diferentes”.
Já a aproximação com a viola de cocho surgiu por conta de uma oportunidade de trabalho. A Orquestra de Mato Grosso incorporou o instrumento e Bruno foi selecionado. Foi o ponto de partida para um trabalho de escolha de repertório, que não foi fácil num primeiro momento.
“Bem no começo da orquestra, a gente não tinha repertório. Eram horas e horas de ensaio, pesquisando sonoridades, combinações, pesquisando as músicas que a gente podia tocar junto com a orquestra”. A dificuldade começava já na ausência de partituras. “Tudo o que chegava para gente era baseado no violão. A gente tinha que reescrever tudo. Hoje não, as pessoas já mandam a partitura com a afinação que a gente usa. Já existe até um concerto para viola de cocho”.
Uma coisa puxou outra. Com a experiência na orquestra veio o convite para dar aulas no Sesc Arsenal. Ali, Bruno também dá aulas de violão durante a semana. Não bastasse, ensina flauta doce em colégios, embora não se considera flautista.
O curso da viola de cocho acontece entre março e novembro. Durante as aulas, Bruno tenta mostrar aos alunos as variações que o instrumento permite. “A viola é um instrumento que ainda não está pronto, ela ainda está em desenvolvimento. Eu mesmo já testei várias afinações e utilização diferente de cordas”.
Com as aulas, ele tem a oportunidade de passar um pouco da esquecida tradição musical mato-grossense. “Durante uma época, essa tradição foi se perdendo e está sendo resgatada agora com o trabalho de vários músicos. Mas, até hoje ainda é difícil encontrar alguém que faça uma viola de cocho. Sempre foi uma coisa mais de pai para filho”.
Não deixa de ser uma trajetória curiosa para quem começou na música pelo rock. Hoje Bruno não faz mais distinção entre gêneros musicais. “Existe música boa e música ruim. Existe música que é feita com concepção artística, outras com concepção comercial. Existe música bem feita, que eu posso gostar ou não. Uma coisa não destoa da outra, pelo menos para mim”.