
As agressões ao meio ambiente nos rios mato-grossenses, entre os quais o Cuiabá, não se restringem à instalação de tablados para exploração da pesca comercial ou a degradação das margens pelo desmatamento e pela erosão.
As cevas fixas, mecanismo de oferta de alimento que atrai peixes para um determinado ponto do leito, continuam prejudicando a reprodução das diversas espécies de pescado.
Mesmo fazendo parte da lista de apetrechos de uso proibido desde maio de 2009, conforme o artigo 25 da Lei Estadual 9.130/09, as cevas continuam sendo usadas em praticamente todos os pesqueiros e chácaras.
A reportagem do Diário comprovou o desrespeito à lei na semana passada, ao visitar diversas propriedades ao longo de mais de 15 quilômetros de margens do rio Cuiabá, no município de Santo Antônio de Leverger.
O ictiólogo, especialista em peixes de água doce e professor, Francisco de Arruda Machado, explicou que as cevas impedem o fluxo normal dos peixes fazendo com que as espécies estabeleçam “residência” nos locais onde o alimento é permanente.
Nesses locais, os peixes acabam engordando muito, preenchem a cavidade abdominal com gordura e passam a ter dificuldade para desenvolver ovas e fazer os deslocamentos na época de reprodução, também chamada de piracema. Na prática, a consequência dessa agressão pode ser medida pela redução dos plantéis pesqueiros, disse.
Com 36 anos de atuação no setor ambiental, Francisco Machado avaliou como ruim a lei estadual em questão, porque proibiu a ceva, mas permitiu a instalação de tablados. O tablado, observou, é invasivo, agride a natureza ao levar ao uso da ceva fixa, além de propiciar a presença de muitos pescadores, bem mais que a capacidade do rio.
Machado lembrou que o Estado chegou a aprovar uma lei proibindo a instalação de ceva fixa, mas poucos meses depois, foi anulada por um novo projeto de lei, um substitutivo total que autorizava a prática reprovada pelo especialista.
No entendimento de Francisco Machado, algumas medidas se fazem necessárias para recuperação do rio Cuiabá, responsável pelo abastecimento de água da Capital e outras dezenas de municípios e dos mais importantes para o Pantanal. Entre as ações citou a proibição dos tablados e cevas, a recuperação e prevenção da vegetação ciliar, além do tratamento do esgoto das cidades que são carreados in natura para o seu leito.